domingo, 3 de julho de 2011

COPA AMÉRICA: Primeiras Táticas da Argentina

O jogo de estréia contra a Bolivia foi um treino tático para a Argentina e evidenciou muitas coisas. Sergio Batista trabalhou com dois sistemas táticos, basicamente. Sua dificuldade, porém, em replicar o "ambiente de Barcelona" ao time argentino para melhor utilização do craque Messi, ficou bastante clara. É o que veremos a seguir:

I) 4-3-3 Argentino x 4-3-3 Barça


Batista escalou a Argentina em um 4-3-3 que, apesar de parecido com o time catalão no papel, era um pouco bizarro.

Fora de posição
Tevez não é ponta-esquerda e Lavezzi, apesar de jogar na ponta pelo Napoli, estava escalado na direita e não na esquerda, como de costume. Apesar disso, Lavezzi conseguiu boas jogadas pela direita, correndo por fora do lateral esquerdo boliviano, Messi fazendo o passe entre o lateral e o zagueiro e ele entrando em diagonal para finalizar. A melhor chance de gol do primeiro tempo saiu dessa forma, porém, a finalização não saiu como deveria, e Lavezzi teve um primeiro tempo pouco produtivo.

Já Tevez, que gosta de atuar pelo meio no Manchester City, fazendo jogadas curtas, driblando e tabelando para depois finalizar, não soube atuar como ponta, que no caso faria amplas jogadas, utilizando da velocidade para furar a retranca boliviana. Também não rendeu.

Banega não encarnou Iniesta
Uma das características do falso-nove é buscar jogo no meio do campo, movimento que enfraquece a defesa adversária, pois dois ou mais defensores chegam para dar combate no jogador. Por isso, é primordial nesse esquema que um jogador de criação possa receber a bola livre de marcação. No Barcelona, quem recebe essa bola é o Iniesta. Acomodado, e com Cambiasso e Mascherano fazendo a marcação dos adversários, o Iniesta argentino, Ever Banega, pouco fez além da transição das bolas da defesa para o ataque. Atuou muito recuado e poderia ter dado mais apoio na frente. Não fez.

Marcação pressão e 4-1-4-1 sem a bola
O Barça mantém uma posse de bola espetacular de mais de 60% todo santo jogo. Ao senso comum, isso é mágica, não tem explicação. Um olhar mais aprofundado diria que isso é resultado de uma marcação pressão constante e, além disso, "implacável". Não há adjetivo melhor que esse para defini-la. Mais do que mera característica de jogo, é uma bela arma contra os oponentes. Se os espanhóis correm para possuir a bola assim que possível, descansam tudo e mais um pouco com ela nos pés. É a filosofia do "descansar com a bola" e cansar o adversário.

A "cópia" argentina, entretanto, não faz marcação pressão. Pior, sem a bola, os pontas recuam e Messi fica isolado à frente. Praticamente um 4-1-4-1. Ou seja, desmancha-se o 4-3-3 e com ele toda a sua dinâmica de jogo, o que deixa o time lento, compactado demais, e reduz drasticamente a criação de jogadas, dependendo de um vacilo adversário para realizar o contra-ataque. E isso leva tempo.

II) 4-2-3-1 no 2ºT

No segundo tempo, a Argentina entrou com o time no 4-2-3-1. Tevez atuou como centroavante, Cambiasso saiu para a entrada de Di Maria, que atuou na ponta esquerda. Posteriormente, Agüero entrou no lugar de Lavezzi, melhorando ainda mais o ataque pela direita.

Messi e Tevez não podem atuar juntos
Aqui, a falha de Sergio Batista foi colocar Tevez e Messi na mesma vertical. Tanto Messi quanto Tevez atuam como falso nove em seus clubes. Com isso, os recuos de Tevez "empurraram" Messi ainda mais para o setor defensivo. A entrada de Agüero no lugar de Lavezzi  trouxe qualidade nas finalizações, e foi de um lindo voleio após cruzamento de Di Maria e ajeitada de peito de Burdisso que veio a salvação dos hermanos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Time de bolas paradas?
Se o time se propõe a focar a criação das set-pieces, ou seja, das jogadas de bola parada, pode-se dizer que a Argentina fez um bom jogo. Foi de bola parada o gol boliviano e o argentino. Mas isso não é verdade. O time, pela característica de seus jogadores de ataque, foi feito para jogar com a bola nos pés. A partida foi péssima e o empate com um time medíocre como o boliviano evidencia isso. É preciso um pouco mais de cuidado com as necessidades táticas do time para criar um ambiente ideal para que se extraia o máximo que Messi possa render fora do Barça. Também é  preciso que essa busca pelo ambiente ideal para a "Pulga" não prejudique outros setores, inclusive o ataque. Lavezzi e Tevez são excelentes jogadores lá fora, mas se não forem bem utilizados, rendem aquilo que se viu na estréia da anfitriã na Copa América: jogadores razoáveis e até ruins.

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