quarta-feira, 7 de março de 2012

Novos padrões?

É, amigos. Estamos vendo a história sendo feita. 7 a 1 no Bayer Leverkusen pelas oitavas de final da Champions não é pra qualquer um. O mesmo Bayer que bateu o Bayern por 2 a 0 na última rodada do Campeonato Alemão.

O Barça atual não só tem o jogador que pode (e muito) ser o melhor da história, como deixará muitos legados para o futebol no futuro. Entre tantos legados, chamo a atenção para um em especial que pode (preste atenção à esta palavra) virar tendência - e talvez padrão - para os times do futuro: a média de altura dos jogadores de meio-campo e ataque.

Tabelinha que fala por si só

Altura e velocidade estão inversamente relacionadas. Jogadores mais baixos tem centro de gravidade mais baixo, possuindo assim condições de mudar a direção mais rapidamente e em menor tempo.

Tendemos a pensar que, por serem baixos, os jogadores do Barcelona passariam a conduzir mais a bola, como ocorre normalmente com esse tipo de jogador (baixo e consequentemente veloz). Pelo contrário, no jogo contra o Leverkusen, foram realizadas 988 tentativas de passe, com 88% (865) completados, segundo dados da UEFA. Quase mil. Ou seja, os jogadores correm, mas não com a bola. O jogador se desloca em dois momentos principais: para retornar ao posicionamento "correto" e para fazer a marcação por pressão. Qual o jogador ideal para fazer esse deslocamento todo em tempo e espaço tão reduzidos? Seria ele alto ou baixo? A questão não é tanto a velocidade final. Jogadores mais altos podem atingir a mesma velocidade de jogadores mais baixos. O problema todo reside na aceleração, e nesse aspecto é incontestável a vantagem que os menores exercem sobre os maiores.

Outra vantagem de se ter um jogador assim é a velocidade com que ele gira sobre a marcação. Isso é importante quando o jogador não encontra alternativas para o passe, tendo de recuar a bola ou passá-la de lado para algum companheiro de time melhor posicionado para realizar o passe que adiantará a posse para o campo de defesa adversário. Cito como exemplo de Xavi , que apesar de não possuir muita técnica no drible, faz o giro quase o jogo inteiro, eficientemente, claro que combinado à uma visão de jogo excepcional. No jogo de hoje, ele teve média de acerto de 92% dos passes. Pouco, não?

A influência da altura é tamanha sobre o "padrão Barça" que os jogadores simplesmente não cobram escanteios de tão baixo o elenco. Preferem manter a posse de bola. Desvantagem? De forma alguma. Isso mantém o padrão de jogo intacto, sem rifar a posse da bola, ou seja, zerando o risco de perdê-la. Não há prejuízo para o nível de pressão exercido pelo time.

Há quem diga que é besteira, respeito, até porque tudo depende do modelo de jogo de cada time. Quase todo time que se preza possui a "referência" no ataque, aquele jogador finalizador, "de área", fixo, geralmente grandalhão, muitas vezes trombador. Mas o padrão de jogo é muito influenciado pelos que estão no topo e, no momento, o Barça dita um padrão desafiador para que jogadores de meio campo e ataque sejam menores, mais rápidos, que acelerem para dentro da grande área para receber um passe em profundidade, uma enfiada entre zagueiro e lateral, ou entre os dois zagueiros. Isso acontece porque os jogadores de ataque do Barça atuam todos do lado de fora desse setor, a grande área.

O padrão de jogo do Barça é único também por causa desse fator - possuir um jogador atrás da última linha de ataque, obtendo vantagem numérica no meio campo. Em um esporte cada dia mais competitivo, é uma vantagem importante. Muitos times têm armado esquemas para "frear" o Barça, como colocando um jogador a mais à frente da linha dos zagueiros. Porém, isso tira um jogador do meio pra frente. Não seria mais fácil retornar um jogador do ataque, ou seja, jogar como o Barcelona joga? Teoricamente, sim. Mas seria suficiente? E a velocidade?

Existem muitas evidências sobre exigências físicas impostas por padrões de jogo específicos. Basta olhar para os alas e laterais de hoje. Difícil encontrar um com altura superior a 1,75m, 1,80m. O mesmo aconteceu com os jogadores de defesa e goleiros. Zagueiros normalmente possuem grande força física e têm altura acima de 1,80m, assim como goleiros. Não estou dizendo que os melhores são assim. O futebol é que faz uma "seleção natural" dos jogadores, posição por posição, de acordo com as exigências de seu tempo. Se o cara for bom, não importa se é alto, baixo, maneta ou perneta. Ele vai vingar na posição, vide Puyol (um zagueiro baixo para os padrões, com 1,78m de altura), Maicon (um lateral alto para os padrões, com 1,84m de altura) ou Falcão García (um centroavante matador baixo para os padrões, com 1,78m de altura. E como cabeceia bem esse jogador...). Quem não lembra do caso emblemático do goleiro Jorge Campos que defendeu o México na Copa de 94, do alto dos seus 1,75m?

Se o padrão imposto por esse time (que é o time a ser batido) influenciará os demais times, é complicado dizer. Guardiola pode sair a qualquer final de temporada, como tem ameaçado ano após ano. Difícil mudar treinador sem impacto para a filosofia de jogo. Entretanto, se influenciar, estaria decretado o fim do centroavante clássico, do camisa 9 matador? É algo a se pensar.

A Hungria de Puskás já tentou isso com Hidegkuti recuado. Não deu certo. Ou quase. Está aí o Barça para provar o contrário.

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