sábado, 5 de março de 2016

Crítica Tática

O torcedor palmeirense em geral está angustiado.

Muito semelhante à época em que Felipão comandava o alviverde há algumas temporadas, a preocupação agora é a mesma: recuperar um futebol vistoso que há muito não frequenta nossos gramados. Naquela época, porém, tínhamos um elenco tecnicamente bastante inferior. Jogando no "4-2-3-1", pelo menos nas declarações do "professor" Scolari - e que mais se assemelhava à um 4-3-1-2 -  o time não encantava, não tinha padrão de jogo e vivia de chutões devido à baixa qualidade na saída de bola. O elenco, entretanto, nem de longe se comparava ao atual. Naqueles anos, além de encher o meio de campo com volantes, contratávamos o que o mercado deixava de contratar. Hoje, fechar com o Palmeiras significa fazer um bom negócio.

Marcelo Oliveira utiliza o que já vi alguns "comentaristas" chamar grosseiramente de "tática estilingue". Isso significa abdicar da posse de bola, rouba-la no campo defensivo e sair em velocidade no contra-ataque em jogadas verticais. Com o time adversário posicionado majoritariamente no nosso campo defensivo, não é difícil encontrar espaços na transição defesa-ataque. A tática, porém, não costuma funcionar com times que se posicionam de forma mais compacta - principalmente os "pequenos", com pouco poder ofensivo - e encontrar esses espaços se torna tarefa mais difícil. Nessas circunstâncias, furar o bloqueio defensivo significa muitas vezes rodar a bola com velocidade, rápidas triangulações e um passe final mais qualificado.

Nosso time não tem preocupação, portanto, em manter a posse de bola. Isso ficou evidente quando Marcelo assumiu o Palmeiras. Logo em seus primeiros jogos, a posse de bola despencou em relação ao trabalho que vinha sendo desenvolvido por Oswaldo de Oliveira.

Ao palmeirense que aguarda uma mudança radical, com alta posse de bola, girando rapidamente a bola (preocupação de técnicos considerados "modernos") e triangulando, uma pergunta: como pode um time executar tal padrão tático sem que a posse fosse uma prioridade? Um time que se preocupa com a posse deve saber recuperá-la não no seu campo defensivo, mas realizando pressão alta com os atacantes no campo de defesa adversário. Se não tiver a posse, não saberá o que fazer com ela. Logo encontraremos dificuldades quando os espaços forem curtos e o time adversário estiver compactado. O padrão atual impossibilita esse desenvolvimento.

É justo, portanto, falar em falta de padrão tático? Não. Marcelo Oliveira ganhou dois campeonatos brasileiros jogando exatamente dessa forma, apoiado principalmente na ótima fase de jogadores como Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart, entre outros, que executavam com maestria a transição defesa-ataque. Está seguindo rigorosamente a fórmula que o alçou ao sucesso. Porém, à beira do campo nos jogos mais recentes é possível vê-lo berrando, pedindo aos jogadores que rifem menos a bola e saiam jogando sem os chutões. Diante do Rosário, isso foi impossível. E esse o motivo da crítica.

Concluindo, qual o sentido disso tudo? Talvez a ideia por trás da persistência nessa tática seja a de que, contra times pequenos, a qualidade individual sobressairá, independente do padrão tático adotado. Em um lance individual ou em algum momento do jogo, no embate de forças, as chances do jogo ser decidido a favor do time mais qualificado é substancial. Logo, um elenco qualificado terá apenas que se preocupar com os grandes jogos, onde a postura dos times propõe um jogo mais aberto, com maior iniciativa de ambos, o que propiciaria o encaixe dos poderosos contra-ataques alviverdes. Seria isso suficiente para chegar ao topo da América? O embate diante do Rosário Central indica que, quando Prass não estiver inspirado, não será.

Ao palmeirense que espera um padrão de alta posse de bola, que assista aos próximos jogos. Antes de efetuar um jogo de alta posse de bola, com qualidade e "bola no chão", é preciso priorizar a posse, para depois entender o que precisa ser feito com ela, o que acho pouco provável diante das convicções do atual treinador.

No final das contas, futebol é resultado, assim como qualquer outro esporte. Apesar de estar em uma situação delicada e cheia de tropeços, ele tem conseguido resultados pontuais que o asseguram no cargo. O que está em jogo, porém, não é se venceremos ou não a próxima partida. Mas se venceremos Campeonatos. Poderíamos ter perdido "de pé" para o Rosário, com um bom nível de posse e finalizações e ainda alimentar esperanças de partidas melhores. Mas é claro que a vitória diante do bom time argentino não deixou nenhum dos mais de 36 mil torcedores confiantes de que somos, no mínimo, candidatos fortes ao título.