segunda-feira, 19 de março de 2012

Neymar e o futebol europeu


Recentemente, o presidente do Santos, LAOR, resolveu se posicionar diante da declaração do ex-jogador e agora empresário Ronaldo de que Neymar precisaria jogar no exterior caso quisesse disputar o título de melhor jogador do mundo. No caso, LAOR disse que Ronaldo só declara isso porque existe a possibilidade de receber comissão caso o jogador se transfira para fora.

Mesmo que Ronaldo leve alguma comissão na transação, LAOR é tão parcial quanto o ex-jogador. Defende a sua parte, e esse é seu papel como presidente do clube. Está corretíssimo em sua atitude.

Analisando a questão excluindo quem ganha e quem perde, olhando apenas o aspecto técnico do problema, fica claro que a declaração de Ronaldo é correta. Se nos perguntarmos onde estão os melhores defensores da atualidade, os melhores goleiros, zagueiros e volantes, certamente não os encontraremos aqui. Por quê?

É uma questão de mercado. Não estou dizendo que os campeonatos europeus são mais disputados que os daqui, mas que definitivamente possuem uma safra melhor de jogadores em suas ligas principais.

Se você quer comprar um carro e tem pouco dinheiro no bolso, não poderá comprar algo muito sofisticado. Se tiver muito dinheiro, poderá comprar algo melhor. Não é diferente no futebol. Para ilustrar a diferença entre os dois mercados, vou citar o caso conhecido de um jogador famoso que atua no Brasil e um não tão famoso que atua em um time da Europa.

O torcedor brasileiro já achava um absurdo o que o atacante Adriano ganhava por mês no SCCP, segundo especulações da mídia. O que intriga é que a maior parte deles jamais ouviu falar o nome de Luka Modric, meia do Tottenham. O salário oferecido ao jogador recentemente pela diretoria do clube londrino para segurá-lo, segundo jornais ingleses, foi de módicos R$ 277 mil... semanais. Dá mais que o dobro do que se especulava pelo ex-atacante de Roma e Inter de Milão mensalmente.

Se Adriano estivesse melhor que Modric (já foi muito melhor), receberia mais. Ou seja, muito provavelmente estaria atuando em alguma liga européia (ou árabe, para onde vão jogadores apagados nos grandes centros do futebol, mas com um passado de alto rendimento), já que seria improvável que algum time daqui pagasse algo a mais do que a soma astronômica pedida pelo jogador. Mas as leis de oferta e demanda ditam o preço justo do jogador. E hoje ele é menor que o do croata. Adriano, aliás, recebia o maior salário do time do SCCP, atual campeão nacional.

E quando ouvem dizer que o nível do futebol praticado lá é melhor, se revoltam, acham um absurdo.

De onde vem toda essa grana é tema para uma discussão muito mais profunda e abrangente à respeito da receita dos clubes e da forma como é feita a gestão do futebol no país. Se você assistir à um jogo qualquer de uma divisão qualquer do campeonato inglês, alemão, espanhol ou até mesmo português, verá que a casa está sempre cheia, os estádios são de primeira linha, todos sentam-se em cadeiras e há muitos seguranças. Tudo isso não sai de graça, os ingressos são mais caros que os daqui. Porém, se o espetáculo não for bom, a casa não enche e não adianta ter estádio bom. Basta olharmos para o Engenhão, certamente uma vitrine do que virarão os estádios que a Copa no Brasil deixará como legado.

Para finalizar, uma informação relevante: o campeonato alemão teve média de público de 42 mil pessoas na temporada 2010/2011. A última edição do Brasileirão teve média de 14.6 mil pessoas por partida, sendo que uma destas, a de Atlético Mineiro 1 x 3 Coritiba, foi vista por incríveis 732 pagantes.

Portanto, mesmo que Neymar resolva ficar, ficará por outro motivo que não o aspecto técnico da questão. Talvez a qualidade de vida melhor, claro, se a diretoria do Santos resolver - e com muito sacrifício - bancar. Se ele possui essa meta - na minha opinião, atingível - de ser eleito o melhor jogador do mundo, deverá passar por esse batismo de fogo europeu.

Manterá ele o mesmo desempenho que possui no Santos nos campeonatos da Europa? Com juízes que não apitam qualquer falta, com uma marcação mais forte e muito mais técnica que a praticada aqui? Contra jogadores taticamente mais disciplinados e mais experientes? Não posso dizer, ele não atua lá. Se lá estão os melhores defensores e ele não provar seus números diante deles, não posso afirmar que é o melhor do mundo. O melhor do Brasil, posso afirmar que sim.

Infelizmente, isso não depende da vontade que todos nós temos de ver o futebol nacional ser valorizado com a permanência dos craques, algo que LAOR está fazendo bravamente, assim como a diretoria de outros clubes. 

É conjuntural.

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