sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Esse é o time

O Palmeiras empata, empata, empata, empata, perde, empata, empata, empata, ganha, empata... Por quê?

Olhando as estatísticas de Vasco e América-Mg, primeiro e último colocados até a 24ª rodada do campeonato, impressiona a quantidade de quesitos em que os valores são quase idênticos. Mesmo número de cruzamentos, desarmes, passes certos e até escanteios conquistados. Finalizações? Igual. Seria então a qualidade individual o vilão do time mineiro? Ou melhor, quantas dessas finalizações (certas) viram gol? Até a 24ª rodada, 37 gols do Vasco contra 30 do Atlético. Analisando o total de finalizações certas no campeonato, temos 34% de acerto contra 29% de acerto. Quase a mesma coisa. Onde está o defeito então? Onde está o número diferente entre os dois times?

Se olharmos o número de gols sofridos, veremos que o Vasco tomou, até a 25ª rodada, 28 gols. O Atlético, 46. Então, a razão para o sucesso está no setor defensivo, certo? Errado. No setor ofensivo? Também errado. E é aí que entram dois novos personagens na história: Palmeiras e Coritiba.

Primeiro, olhemos para o número que mais difere entre os dois, o de gols sofridos. Para ilustrar o porquê de não ser o sistema defensivo, vejamos o caso do Verdão. O Palmeiras tem, até a presente rodada, 24 gols contra. É o menor valor entre os 20 times que disputam o campeonato. Resolveu? Estamos em sétimo. É lógico que para estar entre os primeiros, esse número não pode ser tão grande quanto... digamos ,46 gols? Sim, mas ter o melhor sistema defensivo não ajuda tanto quanto se imagina.

Então fazer gols é o caminho? Não. O Coritiba tem o melhor ataque do campeonato, assusta qualquer time. São 42 gols em 25 jogos, média de 1,68 por partida. Jogo do Coxa é bom porque a chance de sair mais de um gol é quase certa. Mas resolveu? Estão em 9º na tabela.

Então a diferença é buscar o equilíbrio entre sistema ofensivo e defensivo? Não, também! Novamente, o Coxa entra na jogada. O saldo de gols do time é de 11 gols, o mesmo número do São Paulo, atual segundo colocado e melhor, isso mesmo, melhor que os 10 gols do Vasco, que está 10 pontos acima na tabela.

O problema do Coxa, analisando friamente a tabela, é a irregularidade. Ganha de goleada de um e acaba perdendo de outro. Depois, nova goleada, e em seguida, nova derrota. Se distribuísse esses gols marcados quase que, se me permitem o pecado de dizer, "desnecessariamente", para os jogos que perdeu, certamente estaria no topo da tabela. O problema do América é ainda mais claro, porque se tivesse um sistema defensivo forte, como por exemplo, o do Palmeiras, estaria em qual posição?

Aí entra o nosso Verdão de novo. Por quê? Porque o Palmeiras tem o MESMO número de gols marcados que o lanterna até a 25ª rodada.

Incrível? Nem tanto.

O fato do Palmeiras não marcar tantos gols está umbilicalmente ligado ao sistema defensivo forte armado pelo Felipão. Não tomamos gols porque nosso time está saturado de defensores, por assim dizer. Nenhum time joga com tantos volantes quanto o Palmeiras, e os exemplos são muitos. Contra o mesmo Ceará, que enfrentamos na última rodada, fomos de 4-3-1-2, com Rivaldo na lateral esquerda e Chico na linha de volantes propriamente dita. Quatro volantes em jogo. O exemplo mais absurdo do uso de volantes foi o jogo de volta contra o Botafogo. Nada menos que cinco volantes em campo, em um 4-3-2-1 que só existia no papel, pois na prática era um 4-5-1, acéfalo, medroso, uma Muralha da China no meio campo que em nada impediu a goleada por 3 a 1.

O problema é que essa muralha, na média, funciona muito bem. Funciona tão bem que fica difícil para o Felipão tirar um volante de campo para colocar, por exemplo, um meia inexperiente e ainda sem entrosamento como o recém chegado Pedro Carmona. Felipão, melhor do que ninguém, sabe que o problema do Palmeiras é fazer mais gols. Só que para isso é necessário mudanças, porque sem elas empataremos até o final do campeonato. Vale a pena arriscar? É complicado. Cabe ao treinador avaliar se, com a saída de um volante e a entrada de um meia, a quantidade de gols que faremos será maior que a quantidade de gols que iremos sofrer.

A entrada do meia vai, inevitavelmente, gerar perda defensiva justamente porque o meia, além de nem sempre marcar, quando o fizer, fará porcamente (fina ironia). Outro ponto, e mais importante, é que ele tentará jogadas mais complexas e arriscadas, e mesmo tendo mais qualidade para realizá-las que um volante, perderá mais bolas por causa da marcação mais acirrada. Se aplicarmos o pensamento a um volante improvisado na meia, ele tenderia a perder muito mais bolas que o meia. O problema é que um volante improvisado dificilmente arrisca jogadas mais complexas ou em profundidade, dando mais passes de lado do que qualquer coisa. Por isso é preciso ter certeza de que vale a pena.

Dito isso, na minha avaliação, o panorama é o seguinte. Temos um time fechado na mão, que se defende bem, está razoavelmente bem na tabela. Caso os concorrentes mais próximos vacilarem, bem próximos mesmo, subiremos na classificação e conquistaremos, se Deus quiser, a vaga na Libertadores, premiados pela regularidade (empata empata empata empata...) que é e sempre será, diga-se de passagem, uma regularidade garantida. O campeonato está próximo do fim e leva tempo para o jogador entrosar com um time que joga o mesmo jogo há 25 rodadas. Logo, Carmona só mais pra frente e entrando no finalzinho do segundo tempo.

Ou seja, a chance é grande dele - Felipão - deixar o time como está, repleto de volantes, e força-los a ganhar até espanar. O que vier é lucro. A entrada do meia fica para os pontos "quase" ganhos, aqueles jogos "fáceis" (que na reta final, convenhamos, nenhum ponto é fácil, a não ser quando o time está matematicamente rebaixado). Valdívia só volta da seleção mais pra frente e retornando de lesão.

Sulamericana na mão. Com sorte, Libertadores. Com mais sorte ainda, o Rinus Michels baixa no Felipão, ele arma um time de forma decente e os jogadores começam a jogar como a Laranja Mecânica de 74. Daí sim a gente ganha o Brasileirão.

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