terça-feira, 2 de agosto de 2011

Como a mudança na regra do impedimento forçou o 2-3-5 ao WM

O ano era 1925. A FA (Football Association) enfrentava uma média de 2.58 gols por jogo na temporada, algo impensável. Com a baixa média de gols, a média de público despencava. O Futebol havia se transformado em algo tedioso e era preciso fazer algo.

Em novembro, a associação resolveu tomar uma atitude radical. Alterou a regra do impedimento, intocável desde 1866, ou seja, 59 anos. Antes, a regra dizia que para um jogador não estar impedido, era preciso ter pelo menos três defensores à sua frente, ou seja, goleiro e mais dois. A entidade alterou esse número para dois, ou seja, goleiro e mais um defensor, criando o que hoje é chamado "último homem". Antes, o "último homem" de hoje era, na verdade, o penúltimo homem.

Times como o Newcastle United, tão adeptos à armadilha de impedimento, tiveram de se adaptar. O número de gols por partida aumentou consideravelmente na temporada seguinte, 1925-1926, para 3.69 gols. Os times, que até então armavam seus times no 2-3-5, precisavam de uma solução defensiva. Se antes podiam facilmente armar uma armadilha de impedimento, agora eram rapidamente pegos em desvantagem numérica em um ataque pelo centro, em situações de 3 contra 2, 2 contra 1, ou pior.

Os efeitos da alteração da regra de impedimento em 1925:

A solução foi encontrada por Herbert Chapman, que em 1925 assinou com o Arsenal, vindo do Huddersfield. Chapman recuou o jogador que, naquela época era chamado de "centre-half", basicamente, o médio do centro da linha de três jogadores do 2-3-5 para recompor o buraco na defesa, trabalhando agora com três defensores (lembrando que nos dias atuais a maior parte dos times trabalha com quatro defensores, sendo que os laterais também são considerados defensores). 

Partindo de uma série de premissas, entre elas a de que o ataque devia partir de uma boa defesa, com o foco no contra-ataque, e de que um ataque construído pelo centro é muito mais perigoso e objetivo do que simplesmente correr pelas laterais do campo e fazer o cruzamento para a pequena área, Chapman criou ainda o que seria o precursor do esquema que ele próprio aperfeiçoou, o chamado "WM", um 3-4-3 com 4 linhas de jogo (3-2-2-3), com o "quadrado mágico" no centro, o coração da armação de jogadas de ataque. 

Chapman recuou dois atacantes da linha de cinco jogadores à frente, recuou um centro-médio da linha de 3 jogadores anterior para a zaga, com o único intuito de marcar o centroavante adversário. Os dois zagueiros restantes marcavam os wingers do rival, enquanto os "half-backs" (volantes) marcavam os "inside-forwards" (atacantes "por dentro", que ladeavam o centroavante)  da linha de cinco atacantes. Compactava o centro, esperando os times adversários atacar com seus cinco jogadores de bloqueio (3 zagueiros e 2 volantes), abria os "wingers" nas pontas, fazia a ligação direta para o ataque e objetivava a finalização através de cruzamentos ou simplesmente arrematando à gol.  Isso deu início à era do wing-play inglês, que nos contribui até hoje com jogadores excepcionais nessa posição, como Gareth Bale e Ryan Giggs.

O "WM"



O WM instaurou uma hegemonia que durou aproximadamente duas décadas, até cair frente ao 4-2-4 húngaro, chefiado por ninguém menos que Ferenc Puskás Biró, ex-jogador do Real Madrid e o craque que levou o time nacional ao vice campeonato de 1954.

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