terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Uma Seleção de Bósnia

Brasil 2 x 1 Bósnia (ou 1 x 2?)
St. Gallen, 28 de fevereiro de 2012.

Patético, não tem definição melhor.



Sinceramente, levar Ronaldinho até a longínqua Suíça para mostrar ao mundo o que o Brasil todo já sabe é deprimente. Somente um modus operandi arcaico seria capaz de levar tal mentira às últimas consequências. O jogador já não tem nível de seleção. A culpa é do "gaúcho"? Sim. Dos gaúchos. O autêntico - atual técnico - e a versão carioca.

Não cabe aqui destacar o aspecto político da questão (que é público e até os bêbados que habitam o buteco mais sem vergonha sabem), mas retratar o quadro atual do ponto de vista técnico e tático. Se o primeiro erro de Mano Menezes (o outro gaúcho da história) foi escalar novamente o jogador, o segundo - e mais grave, na minha opinião - foi colocá-lo fora de posição. Ronaldinho sempre atuou melhor, isso é conhecido no mundo inteiro, mais avançado, pela esquerda. Apático, facilmente marcado, errou N passes no primeiro tempo, totalmente sem inspiração. Fosse apenas um teste, ficaria tranquilo. Mas Mano conseguiu fazer outra cagada (me desculpem o termo) e botou Hernanes aberto pela direita. What the fuck! Você se irrita, coça a cabeça, não consegue acreditar no que está acontecendo. Foi até a Suíça pra fazer isso? O tempo passa devagar, nada acontece, você espera até os 20' do segundo tempo pra enfim vê-lo colocar Paulo Henrique Ganso no lugar de Ronaldinho e em seguida o Hulk no lugar do Hernanes. What the fuck 2!

O resultado foi um time que já temos visto há algum tempo com Mano Menezes. Sem agressividade. Sem chutes a gol. Sem objetividade. Hernanes pouco criou fora de posição, Ronaldinho nem entrou em campo. Neymar deu trabalho, mas sem a presença de ataque dos companheiros que atuam na mesma linha e com Damião plantado na grande área, pouco fez. Restou aos laterais decidirem a partida. Mano está insatisfeito? Pois foi ele que montou o time dessa maneira.

A saída de Ronaldinho da seleção, após essa partida, é uma tendência cada vez mais forte. Posso estar errado. Depois de vê-lo ser escalado pra seleção mesmo apresentando um futebol medíocre no Flamengo, não duvido de nada.

O problema para o qual chamo atenção, entretanto, é muito mais grave. Jogadores chegam à seleção consagrados pelo futebol que apresentam em seus clubes, dentro da posição que costumam jogar. O futebol hoje é tão especializado como o trabalho na fábrica de alfinetes que Adam Smith, o "pai" das Ciências Econômicas, sonhava funcionar. Se você mudá-los de posição, não vão render o esperado, leia-se "o que apresentam em seus clubes".

Chamo a atenção porque vi uma Argentina com Higuaín, Messi, Tévez e Agüero cair diante de um ótimo time como a Alemanha, na Copa do Mundo da África, em 2010 por um humilhante placar de 4 a 0. Problemas com o ataque? Não. O time sucumbiu diante do "suicídio tático" realizado por Maradona, colocando diversos jogadores fora de posição e realizando improvisos escabrosos. Deixou Messi exclusivamente na criação de jogadas, coisa que não fazia (e ainda não faz) no Barça. Mascherano sozinho na linha de volantes, diante de um meio campo privilegiado com Khedira e Özil (ambos no Real Madrid atualmente) e Schweinsteiger (Bayern), outro erro. Otamendi, pela lateral direita, sem a cobertura do volante (que era um só, ou seja, isto seria praticamente impossível) viu Podolski surfar no ataque. Di María foi erroneamente escalado avançado pela direita (jogou toda a temporada de 2009/2010 pela esquerda, ainda no Benfica) e sem a obrigação de marcar Boateng. Esse último, notável lateral no aspecto defensivo, encontrou tamanha mamata que até arriscou jogadas avançando no ataque. Sim, se mesmo Máxi Rodriguez não conseguiu marcar Lahm pela esquerda, certamente Di María tomaria um baile maior ainda. Mas escalá-lo na direita, seria uma boa? Existiria algum jogador forte no apoio por aquele lado do campo no banco da Argentina? São coisas que um técnico deveria pensar. Hernanes é melhor no apoio pela direita do que Hulk ou Lucas? Eu acho que não.

Escalar a defesa do jeito correto, até a minha avó acerta. E a sua também. Agora, escalar corretamente o ataque nos daria aquela agressividade que fazia os gringos suarem frio ao enfrentar a amarelinha. Sensação semelhante à dos jogadores que descobrem ter o Barcelona como próximo adversário. Mano não tem feito isso. Hulk, Hernanes, Lucas e Damião têm qualidade.

Jonás
Acabei de tomar banho e lembrei de outra lambança tática do El Pibe de Oro. Não conhecia o futebol de Jonás Gutiérrez até a Copa de 2010. Foi então que o vi atuar, se não me engano, como volante, lateral e por fim em sua posição original, meia pela esquerda. Tive a impressão de nunca ter visto um jogador tão ruim atuar pela seleção argentina. Por incrível que pareça, logo após a Copa comecei a acompanhar tudo sobre o Campeonato Inglês, surgindo uma admiração forte pelo Newcastle United, time que tem um estilo "Palmeiras" de atuar, com técnica mas também muita garra, raça. E assim foi feito justiça ao futebol do meia argentino, depois de muitas partidas assistidas. Hoje, reconheço: o cara é um craque de bola. Porra, Maradona!

Pra pensar...
Colocar Ronaldinho centralizado e Hernanes aberto pela direita, para alguém que está pressionado no cargo por resultados, frente à uma seleção de segunda linha (apesar de ter lá seus méritos) não parece uma decisão sensata. Estaria Mano "pedindo pra sair"?

2 comentários:

  1. Essa também é minha visão também. Devemos rever nossos conceitos e admitirmos que, ainda que tenhamos os melhores atletas do mundo, devemos, e muito, na questão tática que avançou com extrema rapidez desde a copa de 2006. Os resultados mostram as evidências, não somente com relação a Seleção, mas também com relação aos clubes que, de forma surpreendente, sucumbem até diante de equipes tecnicamente inferiores nos torneios sulamericanos. Equipes como Universidad del Chile, se reciclaram e adotaram um outro estilo de jogo, enquanto que nós comandados por Felipão, Luxemburgo e Muricy ainda insistimos em sermos professores e não alunos.

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  2. Acho o seguinte: temos alguns dos melhores jogadores do mundo em suas posições, inclusive no ataque (atualmente é comum ver jornalistas difundindo a idéia de que o país não tem produzido atacantes e meias de primeira linha, apenas jogadores de defesa de qualidade). Só que se não soubermos aproveitá-los, não irão render. É o que se vê na seleção atual: se para a maior parte dos brasileiros (que, diga-se de passagem, não acompanham os campeonatos europeus), Pato e Robinho são jogadores ruins, a torcida do Milan não acha a mesma coisa. Se Hulk é apenas um jogador de velocidade e sem qualidade na finalização, no Porto só não faz chover. A questão é COMO utilizá-los para render o máximo.

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